William Robson Cordeiro
Doutorando do PosJor/UFSC e pesquisador do Nephi-JOR

Posso dizer que a minha estreia na coluna JANELAS, do Nephi-Jor, tem ligação muito forte e pertinente com as primeiras leituras em que tenho me debruçado estes dias no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, da UFSC. Sobretudo, diante de reflexões realizadas com demais companheiros, acerca dos novos gêneros e formatos jornalísticos que se apresentam diante de nós, quando falamos de ciberjornalismo. Mais do que os novos produtos que povoam a rede, o crescimento é, da mesma forma, acompanhado pelos conceitos que crescem sem parar entre os teóricos ao criar suas novas “gavetinhas”, os chamados gêneros. Não vamos entrar nas questões mais intrínsecas acerca deste tema, assim, poderíamos recorrer aos estudos da linguagem, a Mikhail Bahktin, ou até aos gregos, mas focaremos nas controvérsias e nas novas propostas apresentadas, a partir da leitura de um texto do Antônio López Hidalgo e um ponto em especial: a infografia jornalística.

O que me instiga à abordagem deste tema é a perspectiva de Hildago a partir de seu texto “Géneros periodísticos: controversias, desencuentros, classificaciones y propuestas”. Disseca sobre os gêneros jornalísticos e sua polêmica, discorda de algumas aplicações e, finalmente, aborda o que denomina de “gêneros jornalísticos complementares”, que se apoia na necessidade de tornar a leitura mais agradável, na atração do leitor para a página (ou para o produto multimídia), com a utilização de elementos jornalísticos que reforçariam um eixo temático, base da reportagem. Ou seja, o gênero reportagem estaria acompanhado de outros gêneros que, juntos, formariam o todo. Estes gêneros complementares seriam os boxes, as retrancas, a infografia, a enquete, a fotonotícia, etc.

Ou seja, os gêneros complementares só existem escoltando uma temática principal. O termo já diz tudo (claro!) e, desta forma, estes gêneros não podem ser considerados isoladamente, o que levariam a ser classificados de outra forma. A infografia numa reportagem, por exemplo, é um gênero complementar. Porém perde este status, quando visto isoladamente, numa peça em si mesma, como nas reportagens infogradas da revista Mundo Estranho. Neste caso, seria enquadrada ou deslocada ao gênero informativo, segundo a classificação que Tatiana Teixeira reivindica em seu livro Infografia e Jornalismo, de 2010. Os gêneros complementares funcionariam, portanto, como unidades autônomas, embora em um compósito maior que, segundo Hidalgo, depende de um ponto de vista temático. No final das contas, vamos entender que estes novos gêneros servem para nos situar a cada elemento identificável no jornalismo, facilitando a vida daqueles que trabalham na área e levantando reflexões dos estudiosos.

Vamos então, fazer um rápido exercício, tensionando este aspecto de gêneros complementares com outras noções de gêneros no âmbito do jornalismo praticado na internet. Hidalgo cita a infografia como gênero complementar e, no mesmo texto, também é caracterizada como “novo gênero jornalístico digital”. Olha só: a situação até aqui apresentada, nos leva a ver a infografia jornalística, aplicada em gêneros distintos, em gavetas diferentes (além do gênero informativo). Para melhorar nossa compreensão, é importante estabelecer rápida análise sobre o especial multimídia da Folha de São Paulo (Tudo Sobre: O Rio em Transformação) e o infográfico A REFORMA DO PORTO DO RIO, peça que funciona como um videográfico em 3D que reforça o eixo temático da reportagem acerca das transformações urbanas na capital carioca impulsionadas pelos jogos olímpicos de 2016.

INFO A REFORMA DO PORTO DO RIO

A REFORMA DO PORTO DO RIO

A citada reportagem multimídia é composta de vários elementos que exigem a intervenção do leitor/usuário, ao mesmo tempo que o estimula a seguir buscando novas informações a partir de uma consulta mais rigorosa, explorando fotos, textos, vídeos, mapas…. Para Hildalgo, estamos diante da grande reportagem, um tema central permeado por gêneros complementares (neste caso, no suporte digital). O infográfico animado, que detalha como o porto será construído e a área de lazer que será disposta em seu entorno, surge como um elemento complementar, mas isoladamente, como gênero informativo e, sob o ponto de vista do ciberjornalismo, como um “gênero jornalístico digital”. Parece uma costura confusa, mas possível de ser feita, quando vista isoladamente.

O lado bom de tudo isso é que, dentro deste cenário de discussões de gênero, encerra-se, a meu ver, uma longa discussão se infografia é ou não um gênero jornalístico. Alguns teóricos incluíram, no passado, os infográficos na caixa de “subgêneros” ou “subespécies”, revestindo este elemento jornalístico cada dia mais enfatizado no âmbito da internet, a uma importância inferior a outros gêneros, como a notícia, ou mesmo, a charge. Com este texto de Hidalgo, podemos ver de forma diferente. Não apenas leva a infografia a um patamar relevante, como gera discussões acerca dos novos gêneros e dos novos formatos que se apresentam no jornalismo praticado na rede.

*“Janelas” é uma seção quinzenal do site do Nephi-Jor, em que os pesquisadores do núcleo têm espaço para publicar ideias e comentários sobre temas ligados à hipermídia e linguagem.

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