Kérley Winques
Mestranda do POSJOR/UFSC e pesquisadora do Nephi-Jor

Os dias frios começam a mostrar as caras em Florianópolis, nada melhor que iniciar algum tipo de leitura que fuja um pouco das pesquisas teóricas para a dissertação. O livro escolhido foi um presente, A menina quebrada e outras colunas, de Eliane Brum. Premiada por suas reportagens, a jornalista se questiona logo na introdução sobre o consumo do texto longo.

Que ponderação pertinente, afinal se trata do eixo central de minha pesquisa no mestrado. Apesar de ser um livro para degustar e não pesquisar, não consegui fugir da reflexão sobre reportagens, artigos e grandes reportagens. Em breve trecho, Eliane coloca sua ânsia por preencher linhas e páginas com palavras: “Sempre escrevi, como me diziam, ‘demais’. E o leitor, era a máxima nas redações, ‘não gosta de texto longo’. Qual é a pesquisa que prova isso?, eu retrucava, com espírito reporteiro. Não havia pesquisa, mas essa crença tinha peso de dogma” (p. 16).

Será mesmo que o leitor não gosta de textos longos? Um estudo realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) de Portugal analisa o consumo de notícias em plataformas digitais em Portugal e mais dez países, entre eles o Brasil. Um ponto da pesquisa trata sobre O visual e os formatos de consumo, na modalidade de notícias as histórias e artigos mais longos são os mais lidos por 65% dos entrevistados que consomem notícias na internet em Portugal. Além disso, em maio foi anunciado que o Facebook irá publicar diretamente na sua linha do tempo reportagens e artigos jornalísticos de empresas como The New York Times, Buzzfeed, NBC News, National Geographic, The Guardian, BBC, Bild, Spiegel Online e o The Atlantic. Nesse caso, os editores contarão com ferramentas para dar formato a textos, vídeos e fotos, de modo a diagramarem os artigos com uma estética mais aperfeiçoada do que se vê nas postagens da rede social.

A audiência tem mostrado interesse em consumir produtos longos, não só no computador, mas também em dispositivos móveis. A mais recente pesquisa de consumo de mídia realizada no Brasil não apresenta dados relativos a essa questão. Mas as discussões têm se mostrado cada vez mais pertinentes. Assim como Eliane Brum, acredito que o leitor encontrou na internet um lugar para ler textos jornalísticos. E ainda, “Acredito que uma parte significativa dos leitores não avalia ou decide sua leitura pelo tamanho do texto, mas pelo tamanho do respeito pelo seu tempo (…). Por aquilo que o texto faz ecoar nele – mesmo quando o incomoda. Jamais subestimo o leitor (…)” (p. 16).

*“Janelas” é uma seção quinzenal do site do Nephi-Jor, em que os pesquisadores do núcleo têm espaço para publicar ideias e comentários sobre temas ligados à hipermídia e linguagem.

 

 

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