por Marina Lisboa Empinotti

hoje temos uma enorme oferta de informação prontinha para consumo, apitando o tempo todo na palma da nossa mão… mas pare para pensar o quanto dependemos da nossa visão para consumi-la

Você já parou para pensar em quanto o Jornalismo é visual hoje em dia? Melhor dizendo, o quanto dependemos da nossa visão para consumir a grande oferta informativa disponível atualmente?

Com exceção do conteúdo para rádio, que nasce absolutamente auditivo, as demais formas exigem, em alguma medida, a componente visual: a televisão, os impressos, qualquer material online… sim, existem adaptações, como o modo de leitura de telas, em que o texto é lido ao consumidor, é verdade. Acontece que isso se limita a adaptar o conteúdo visual para a forma auditiva, não exatamente do modo como foi produzido. Por ser uma adaptação, sempre há alguma perda de sentido.

O que quero dizer é que quem não enxerga, ou enxerga com alguma dificuldade, recebe informação limitada à componente auditiva, e muitas vezes adaptada de seu formato original. Bom, o ser humano conta com cinco sentidos, que usamos de forma integrada para qualquer tarefa cotidiana. Então por que não pensamos em formas de melhor aproveitá-los para o consumo noticioso?

Este tem sido meu foco de pesquisa no último ano: pensar um modelo informativo para pessoas cegas ou com deficiência visual que ofereça mais do que informação auditiva. Para isso, recorri à impressão 3D. Tenho trabalhado com o PFBMAT-IFSC e o LDPS da Universidade do Porto e já temos algumas ideias, bem iniciais, publicadas em livro e congresso.

A impressão 3D, também chamada Manufatura Aditiva, tem sido incorporada em diferentes áreas do conhecimento para beneficiar setores que precisam de métodos de fabricação distintos dos tradicionais: mais rápidos, mais baratos, em menor escala, altamente customizáveis. Existem, claro, métodos muito sofisticados e de alto custo, mas a grande jogada nesse cenário é a impressão de baixo custo, com máquinas cada vez mais acessíveis e com interfaces amigáveis ao consumidor não especialista — qualquer semelhança com o que aconteceu com os computadores desktop migrando para o ambiente doméstico nos anos 1980–90 não é mera coincidência.

Hoje já se compram máquinas por cerca de 2 mil reais no Brasil, e no exterior, muito menos: 150–300 dólares ou euros. Convertendo hoje o valor fica parecido, eu sei, mas considere o poder aquisitivo local. Foi com um modelo low-cost desses que iniciamos nossas experiências com modelos noticiosos para cegos, pensando que, um dia, uma impressora 3D será ainda mais acessível ao público em geral para que seja possível imprimir modelos noticiosos em casa ou em centros especializados para tal.. quem sabe será o renascimento das lan houses no futuro?

Pois bem, vamos ao modelo proposto. Nossa ideia é aliar a informação auditiva, afinal é o modo com que esse público está habituado a recebê-la, com a informação tátil, ou seja, peças impressas em 3D com as quais a pessoa pode interagir para entender melhor determinado assunto. A narrativa formada, então, é composta por peças a serem tateadas enquanto se escuta informação auditiva. Dois sentidos atuando juntos para a compreensão do fato.

Vou usar como exemplo nosso projeto piloto: volte a 11 de setembro de 2001. Os atentados contra as Torres Gêmeas, em Nova York, foram um momento marcante para muita gente, pois a imagem era muito chocante. Eu tinha 11 anos e me lembro exatamente do momento em que vi na TV a notícia pela primeira vez. Note: foi a cena, o impacto visual, que me marcou. E para quem não pode ver? Será que pode entender o impacto do ocorrido? Será que poderia haver maneira melhor de entender?

Para este projeto piloto selecionamos esta cena pelo impacto visual mencionado e também por ter sido um evento amplamente divulgado. Nossa intenção foi escolher um tema “familiar” para ser testado, e não algo que talvez algum dos participantes do teste poderia nunca ter ouvido falar. Não queríamos que fosse o primeiro contato do participante com a notícia, nesta primeira experiência.

Acreditamos que, justamente por haver alguma familiaridade com o assunto, os participantes poderiam avaliar melhor outros aspectos técnicos do modelo mais importantes para nós neste primeiro momento. Nossa preocupação inicial é compreender qual dos formatos abaixo funciona melhor para transmitir a informação com precisão.

Litophane (esq) ou maquete (dir): qual funcionará melhor?

Imprimimos os dois protótipos e gravamos a narrativa auditiva. Temos rodadas de testes previstas no Brasil e em Portugal, com sujeitos cegos e videntes, a fim de comparar aspectos de forma e percepções de detalhes. Estamos prontos para começar os experimentos, assim que a pandemia permitir!

Este texto foi originalmente publicado no medium do Nephi-Jor em 06/05/2021

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