Lívia Vieira e Kérley Winques
 Doutoranda e Mestranda do POSJOR/UFSC e pesquisadoras do Nephi-Jor

Na semana em que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, suspendeu o fechamento das escolas estaduais, um dos programas mais importantes da TV Globo, Fantástico, sequer mencionou o fato em sua edição dominical de 6 de dezembro.

No mesmo dia, a fanpage “Não fechem minha escola” fez 46 posts sobre o tema, com ênfase na cobertura da Virada Ocupação (#ViradaOcupação). Com mais de 154 mil fãs, a página se tornou um centro de informações importante para a divulgação da mobilização dos estudantes.

E a palavra informação não foi utilizada à toa. Diariamente, desde o início das ocupações, a fanpage tem dado notícias a respeito das atividades desenvolvidas em cada escola, das negociações com o governo, da repressão da polícia, entre outras. Além das postagens, há sempre muitas fotos e vídeos, numa preocupação clara de registrar as ações e gerar compartilhamentos. Trata-se de uma contra-narrativa à invisibilidade que o assunto tem tido na grande mídia, se comparado à sua importância. A nosso ver, é uma mobilização sem precedentes em nosso país nos últimos anos, pois gerou resultado prático, uma vitória mesmo.

Vale lembrar o caráter colaborativo da página, já que ela também divulga o conteúdo das fanpages das próprias escolas, tais como ‘Ocupação E. E. Fernão Dias Paes’, ‘Ocupa Caetano’, etc. Ou seja, além de produzir informação, a ‘Não fechem minha escola’ também faz curadoria, inclusive de comentários de pessoas influentes que apoiam o movimento.

O númeroSem título2 de comentários e curtidas também chama atenção e mostra que a audiência da página é qualificada e engajada com seu conteúdo. O post ao lado, por exemplo, que mostra a truculência da ação policial, teve mais de 5 mil curtidas, 1.824 compartilhamentos e 230 comentários. Se lembrarmos que os posts das páginas do Facebook não são exibidos para todos os fãs, há um engajamento considerável.

 Dessa forma, o ativismo dos estudantes, tão visível e real no termo ‘ocupação’ – eles realmente dormiam e acordavam nas escolas – tem uma interface muito importante nas redes sociais, caracterizando o que chamamos de ciberativismo. Não que a ação física determine a virtual ou vice-versa, mas uma fortalece a outra, numa retroalimentação constante que fortaleceu o movimento desde o início.

A #ViradaOcupação

A Rede Minha Sampa, que congrega ativistas interessados em apoiar causas que transformem a realidade da cidade de São Paulo, convocou artistas e voluntários para realizar a Virada Ocupação, um evento artístico em apoio à resistência dos estudantes contra a “reorganização” escolar elaborada pelo governador Geraldo Alckmin. Pelo projeto de reorganização, pelo menos 93 escolas públicas estaduais serão fechadas e 311 mil alunos transferidos, compulsoriamente.

“Sabemos que em momentos históricos, os artistas surgem como figuras poderosas para representar uma causa de milhares de vozes ignoradas. Se você é cantor, músico, produtor, ou tem algum equipamento de som na sua casa e está disposto a ajudar, inscreva-se e ajude a transformar as ocupações em uma grande oportunidade para os alunos, e toda a população paulista, aprenderem que todos nós podemos mudar as decisões políticas do nosso estado se nos mobilizarmos para isso”, dizia o texto de apresentação do evento.

No último domingo, 06 de dezembro, artistas se reuniram nas escolas em nome de a Virada Ocupação. Apresentações a favor dos estudantes secundaristas que protestam, desde novembro, contra a proposta de reorganização. Depois que o governo do estado revogou, no último sábado, 5 de dezembro, o Decreto 61.672, de 30 de novembro de 2015, que tratava do remanejamento de profissionais da educação para a reorganização escolar, o evento ganhou ares de celebração.

Alguns artistas se apresentaram em show aberto, nas ocupações que recebem a Virada. As escolas acompanharam shows de artistas como Criolo, Paulo Miklos, Emicida, Edgar Scandurra, Tico Santa Cruz, Arnaldo Antunes, Pitty, Clarice Falcão, Maria Gadu, Céu, Tiê, Chico César, Lucas Santtana e Anelis Assumpção. Ao todo #AViradaOcupação contou com 800 artistas, 700 produtores e 800 inscritos para cobrir o evento, foram mais de 2.000 voluntários.

Show com a cantora Pitty

Show com a cantora Pitty

Além disso, destaque para a transmissão ao vivo via Facebook da página do artista Tico Santa Cruz. O Facebook acaba de lançar uma ferramenta de streaming live, disponível apenas para usuários com perfis verificados, o que limita essencialmente às celebridades e figuras públicas (atores, atletas, jornalistas, etc). O aplicativo de streaming ao vivo oferece qualidade de transmissão, engajamento, comentários e curtidas em tempo real, além do compartilhamento em diferentes perfis. É uma forma de oferecer grande experiência ao usuário da rede social.

Sem títuloNo domingo, foi possível acompanhar ao vivo a transmissão do cantor, que estava na Escola Caetano de Campos. Além do show, foram transmitidas algumas manifestações contra o governador e alguns discursos dos estudantes. Foram quase 50 minutos de transmissão. O que gerou números incríveis com relação ao engajamento a nível de Brasil com #AViradaOcupação. Quase 20 mil pessoas curtiram a transmissão, que teve 331 mil visualizações, 2.611 compartilhamentos e quase 18 mil comentários. O vídeo permanece disponível na página.

 

 

*“Janelas” é uma seção quinzenal do site do Nephi-Jor, em que os pesquisadores do núcleo têm espaço para publicar ideias e comentários sobre temas ligados à hipermídia e linguagem.

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